terça-feira, 9 de junho de 2009

Governo é como feijão

Chico Mandira apresenta sistema de manejo a visitantes
“Governo é como feijão, só vai na pressão”. Com essa frase o agricultor e extrativista amazonense Antonio Almires, da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Uacari, resumiu o principal caminho a ser trilhado pela comunidade para assegurar os seus interesses e direitos na construção de um modelo de gestão ambiental que promova a efetiva manutenção da biodiversidade, o desenvolvimento humano e a fiscalização do patrimônio natural em Unidades de Conservação. A mesma opinião foi manifestada por seus conterrâneos Jezemias Guedes Nogueira (da RDS Mamirauá) e José Monteiro (da RDS Uatumã) em encontro realizado com comunitários da Reserva de Extrativismo Mandira, de Cananéia, SP, como parte do programa de oficinas que está ocorrendo em seis comunidades do Vale do Ribeira com vistas ao seminário “Reservas de Desenvolvimento Sustentável: Gestão Participativa entre os povos da Amazônia e Mata Atlântica”, a se realizar no próximo dia 16 na Assembléia Legislativa de São Paulo.

Os agroextrativistas amazonenses visitaram o viveiro de manejo de ostras mantido na comunidade Mandira e puderam compartilhar suas experiências de organização da comunidade, de capacitação no manejo de recursos animais e vegetais como os do pirarucu, tambaqui, quelônios (espécie de répteis que inclui a família das tartarugas), de sementes e óleos vegetais, de madeiras etc. A oficina tratou também sobre a construção de acordos de pesca e a necessidade contínua de fortalecimento dos movimentos sociais.

Almires, presidente interino da Amaru - Associação dos
Moradores da Reserva Uacari, que reúne 220 famílias, insistiu na necessidade de a comunidade se organizar tanto para cobrar do Estado o respeito a seus interesses e tradições como para conscientizar todos os seus integrantes sobre os compromissos e responsabilidades na gestão de uma UC.



Jezenias, membro do conselho fiscal da RDS Mamirauá, a primeira reserva de desenvolvimento sustentável do Brasil, criada em 1996, detalhou alguns dos projetos desenvolvidos pelas cerca de 6.000 pessoas da UC e alertou sobre a necessidade de se realizar assembléias gerais de moradores e usuários que envolvam grupos sociais, todas as instâncias de governo, ordens eclesiásticas e organizações não governamentais para traçar estratégias e políticas para a reserva e buscar o aporte de recursos que contribuam para a geração de renda e aperfeiçoamento da gestão.

Saturnino Andrade, do CEUC – Centro Estadual de Unidades de Conservação do Estado do Amazonas, apresentou dados relativos aos programas de geração renda e gestão em RDSs e Resex.
A oficina, promovida pela UMJ- União dos Moradores da Juréia, com o apoio do Ministério do Meio Ambiente, contou com a participação de Valtency Negrão da Silva, chefe da Resex do Mandira, Wilde Itaboahy, da Fundação Florestal de São Paulo, Valdeci Alves, presidente da Rema – Reserva do Mandira.

O comunitário Francisco de Sales (Chico Mandira) conduziu a visitação ao viveiro de ostra e manifestou interesse especial à estrutura dos acordos de pesca. Antônio Almires fez uma demonstração da peconha, laço feito por extrativistas amazônicos para subir com os pés em árvores sem galhos, em especial para a coleta de frutos de açaí (Euterpe precatoria), oportuna para ser usada na coleta de frutos de sua prima-irmã, a juçara (Euterpe edulis), palmeira que produz o palmito mais tradicional do país e que se encontra em extinção na Mata Atlântica.


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