quarta-feira, 17 de junho de 2009

Seminário na Alesp põe em cheque modelo ambiental paulista

Comunitários, lideranças, acadêmicos e o próprio governo vêem na Adin da Juréia oportunidade de corrigir falhas e assegurar gestão participativa

O reconhecimento da necessidade e oportunidade (criada pelo recente julgamento da Adin da Juréia*) de profunda revisão no modelo ambiental paulista para a correção de vícios e injustiças crônicas na constituição e gestão de Unidades de Conservação foi unanimidade expressa inclusive por representantes do Estado, como a cientista social Wanda Maldonado, diretora da Fundação Florestal, e o deputado Samuel Moreira, líder do PSDB na Assembléia Legislativa de São Paulo, onde foi realizado ontem (16/06) o seminário “Reservas de Desenvolvimento Sustentável: Gestão Participativa e Integração dos Povos da Amazônia e Mata Atlântica”.

Os pontos altos do evento foram os pronunciamentos de William Balée, doutor em Antropologia da Universidade de Tulane, New Orleans, de Marcos Sorrentino, do departamento de Ciências Florestais da Esalq/USP, e a denúncia dos comunitários e técnicos amazonenses de que deixam São Paulo inconformados por terem encontrado no Estado mais rico do País o que jamais imaginaram possível, como “atraso, falta de energia elétrica e comunicação, medo e relatos de opressão e desrespeito à dignidade humana, praticados em nome do respeito ao meio ambiente”, conforme palavras de Erivan Morais de Almeida, do CNS – Conselho Nacional dos Seringueiros, ao assegurar que no Amazonas o que contém a depredação da floresta é a presença do ribeirinho, com seus hábitos e cultura tradicionais.
Balée discorreu sobre a necessidade de todo o pensamento moderno se desprender de doutrinas de pouco fundamento científico e promover novos estudos que, por sua experiência, deverão comprovar que a contribuição humana em florestas e unidades de conservação pode assegurar e até mesmo ampliar a biodiversidade. Pesquisador e professor visitante na Esalq/USP, Balée soma mais de 30 anos de atividades em campo em toda a Amazônia – não apenas a brasileira – e vem constatando que é maior a biodiversidade nas chamadas florestas antropogênicas. Ele diz que entender o homem, indiscriminadamente, como um depredador é um paradigma equivocado, especialmente se a diversidade de culturas e conhecimentos de cada população for desconsiderada.

(*) Ação Direta de Inconstitucionalidade movida pelo Ministério Público julgada pelo Tribunal de Justiça de São Paulo que considerou inconstitucional a lei que criou o Mosaico Juréia-Itatins

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